18 de setembro de 2005

A sua cara não me é estranha.

Há dias uma empregada que trabalha num café perto de minha casa na Costa da Caparica, começa a falar comigo. Até eu avisar passou-se tal e qual assim.

Empregada: “A sua cara não me é estranha…” (dizendo isto naquele estilo charmoso de empregada de mesa com mais de 30 anos, voz aguda, estridente, 130 decíbeis, prolongando o som da letra “a”.

As outras pessoas do café começam todas a olhar para mim, o que eu detesto.

Eu pensativo: “É pá, espero que não digas que eu estive num programa de televisão em que entrevistavam pessoas que eram ao mesmo seropositivos, toxicodependentes, homossexuais, prostitutos, cabeleireiros, maquilhadores e que se chamavam José Carlos.

Empregada concretiza: “Você não fez parte da marcha da Trafaria deste ano?”

E eu disse: “Não.” Depois disso, todas as pessoas me olham de alto a baixo e eu fico com aquele ar de “não me sinto bem, tenho que sair daqui.”

Empregada retoma: “Estava lá uma pessoa a marchar, igualzinho a si. Tem a certeza que não era você?”

A partir daqui é inventado.

Eu: Não , não. E pensei: “Que vergonha, haver a suspeita de que eu marcho numa marcha popular”. E na minha faceta mais snob ainda pensei: “que horror, isto de estar envolvido em manifestações de cultura popular com o seu pendor fascizante e tão pouco pós-moderno”.

Empregada de mesa continua: “Tá bem, uma sandes de queijo como é para si são 2 euros. Um snob à partida tem dinheiro, não?”

Eu: Mas diga-me uma coisa porque é que diz que eu sou snob?

Empregada: Que horror, isso de estar envolvido em manifestações de cultura popular com o seu pendor fascizante e tão pouco pós-moderno? Além de seres snob chamas-te José Carlos e andas na má vida.

Eu: Mas eu não disse isso, apenas pensei.

Empregada: Isso pensa você. Você sofre daquela doença que faz um pessoa dizer aquilo que pensa não tendo noção disso. É que eu na Ucrânia estudei psicologia.

Eu: Se és da Ucrânia diz-me para te pôr creme.

Empregada: Pões-mé creme?

Empregada coloca as mamocas de fora. Eu espalho creme pelas costas e meto-lhe a maõzinha no rabiosque. Ucraniana continua a servir bicas à malta.

De repente entra um ucraniano a dizer: “Natasha!!”. Olha para mim e arregaça as mangas para me bater. Olha para mim novamente e diz: “A sua cara não me é estranha. Você estava na marcha da Trafaria?”

E eu disse-lhe que sim. E ele abraça-me e diz: “Devias ter ficado na marcha da Madragoa”.

E eu respondo: “Mas aquilo lá não tem condições”.

Desafio o leitor deste blog a escrever nos comentários um final alternativo :)
Vão ver que é um exercício muito interessante. Força aí malta!!

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