4 de março de 2006

Não me lembro de ter feito uma piada com travestis, então cá vai disto!

Um travesti sem-abrigo foi morto por um grupo de adolescentes no Porto. O mais velho do grupo contou ao repórter Biscoito os seus argumentos a usar no Tribunal de Instrução Criminal: "Isto tem muito que se lhe diga. As pessoas falam em matar e não sei quê e esquecem o essencial. Eu como adolescente que sou tinha as minhas referências. Não sei se sabe, se costuma ler o Courrier Internacional, mas eu queria ser travesti. Vem lá a dizer isto. Tanto a genética como o meu tio deram um jeito para tal. A malta só precisa de um empurrão, e que empurrão! Depois o resto somos nós que fazemos a vida. Nem tente fazer um gracejo que é perguntar-me se a minha tia se chamava genética. Eu conheço-te as manhas todas, ó boi! Eu quando soube que a Gisberta era um travesti sem-abrigo fiquei desiludido porque foi todo um mundo que julgava ser de "glamour" que foi por água abaixo. Até tenho SMS´s do Carlos Castro a falar destas temáticas. E ele depois também foi por ali abaixo, não o Carlão mas o ouro. Ganhei uma revolta das grandes, à volta do meu corpo todo, tudo por aqui abaixo desde lá de cima e prontos, para me vingar dei cabo da vida dele mas foi em legítima defesa porque ele deu cabo da minha também. O meu tio pode confirmar isto e por mais 10 euros ainda faz meiguices que arrepia-me a espinha toda, ui que eu sei lá! Nem sei para que lado me viro. Agora lá no Tribunal vou dizer isto, veja lá se soa bem, ok? Eu digo que estava com o meu grupo a ensaiar aquela peça a Laranja Mecânica do Anthony Burgess e que o Kubrick depois fez uma película disso. É giro porque metemos isto da cultura no meio do nada para não dar a ideia da marginalidade e quanto a mim acho que resulta, veja lá isso. Há uma parte que é de ultraviolência e fizémos essa. Calhou! Há dias fizémos a parte de matar a senhora solitária dos gatos com pilas de loiça como no original. Calhou, o filme é medonho e está cheio de Zés Pereiras. Vou dizer-lhes que a intenção era só fazer a cena. Ora, na cena o indivíduo não morre e nós respeitamos isso. Por isso não matámos. E eles perguntam: "Então como é que ele aparece morto?" E eu já tenho uma preparada que é dizer que como ele é travesti, a meio da nossa mocada, deve ter morrido da Sida. De repente, não é? Toca a todos. Nós não somos nada e a vida é uma passagem e por aí fora, meu amigo. O meu tio tem a Sida vai para mais de quinze anos e eu também já começo a ter um bocadito disso".

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