9 de janeiro de 2009

Sketche "Magazine de gangues: entrevista a um chefe de um gangue"

Jornalista
Bem-vindo à centésima edição do magazine de gangues. Esta semana, vou conversar um bocadinho com o senhor António, chefe de um gangue muito peculiar, já que é composto por uma família - ele a sua mulher, e os seus dois filhos, de 8 e 12 anos. Senhor António, obrigado pela sua presença.

Senhor António
Eu é que agradeço.

Jornalista
Senhor António, o público está obviamente curioso. Quantos homicídios é que já praticou?

Senhor António
Neste gangue ou no total da minha carreira?

Jornalista
Neste gangue.

Senhor António
Não me lembro bem. Depois da última mudança, perdi alguns livros onde tinha isso anotado. Mas foram para cima de mil homicídios. Mil duzentos e picos.

Jornalista
Nada mau. E nunca foi preso.

Senhor António
Graças a Deus. Era o que mais faltava.

Jornalista
Senhor António, o vosso gangue tem algum estilo definido de crime ou fazem de tudo um pouco?

Senhor António
Nós só trabalhamos à base de homicídios.

Jornalista
Mas como é que matam?

Senhor António
O nosso procedimento é simples. Escolhemos uma praia com muito vento. Depois temos um chapéu de sol, com a ponta bem limada. Espetamos o chapéu de sol na areia mas com pouca profundidade, para que este se solte facilmente. Depois esperamos que este se espete na barriga de alguém.

Jornalista
Descreva-nos como é um dia de trabalho para si.

Senhor António
O meu dia começa cedinho. Enquanto a minha mulher se arranja, que ela é muito vaidosa e tem de estar sempre muito bem arranjada para os crimes, eu e os miúdos afiamos a ponta do chapéu de sol com os nossos afiadores cerâmicos em formato de X. O meu mais novo já é barra a trabalhar com pedras de amolar. Depois vamos para a praia. Cometemos um homicídio, depois vamos almoçar. De tarde, pela fresquinha, para os miúdos não apanharem sol, regressamos à praia para mais um homicídio e depois vamos para casa descansar.

Jornalista
Interessante. Ouvi dizer que o vosso gangue tem requintes de malvadez de pendor profundamente psicótico que são deliciosos e que têm sido muito elogiados pela crítica.

Senhor António
Sim, temos, tem de ser. Normalmente o padrão dos chapéus das crianças é sempre igual ao dos chapéus de sol usados para matar.

Jornalista
Fantástico. E mais, e mais?

Senhor António
O chapéu de sol usado em cada crime tem sempre numa das varetas um papel enrolado com o endereço do nosso blogue, onde descrevemos as nossas façanhas. É o ganguedosenhorantonio.blogspot.com.

Jornalista
Essa ideia é realmente muito boa. Temos ao telefone, uma telespectadora. É a Marina, de Lisboa, e é viúva.

Marina (ao telefone)
Queria dizer que sigo o vosso trabalho há anos. Aprecio bastante os vossos crimes e inclusive já conheci pessoalmente o senhor António. Não sei se está recordado. Há três meses os senhores vieram à Costa da Caparica e mataram um senhor muito peludo que usava uma tanga vermelha e tinha uma touca da Speedo.

Senhor António
Tenho uma vaga ideia.

Marina
Era o meu marido.

Jornalista
Engraçado. É caso para dizer que o mundo é pequeno.

Marina
Pois é. Pronto, eu queria saber se vocês têm algum crime planeado para esta semana. Eu moro para os lados de Sintra.

Senhor António
Olhe, vou estar amanhã na Praia das Maçãs. A partir das 11 horas da manhã.

Marina
Muito obrigado. Amanhã lá estarei. Adeus.

Senhor António
Já agora, aproveito para saudar os emigrantes deste país que estão no estrangeiro a fazer pela vida. Eu vou estar em Biarritz na primeira semana do próximo mês.

Jornalista
Engraçada a forma como as pessoas falam de vocês. Sentem-se admirados?

Senhor AntónioÉ importante que o nosso trabalho seja reconhecido. Fico contente e dá-me motivação para fazer cada vez mais e melhor.

Jornalista
Até que idade pensa dedicar-se a isto dos crimes?

Senhor António
Olhe, enquanto eu tiver saudinha e energia lá vou cometendo uns homicídios. E fico contente porque os meus filhos gostam disto e vão prosseguir o projecto do pai.

JornalistaMuito obrigado, senhor António. Para a semana não perca o gangue que andou durante os últimos anos a escrever “Lava-me porco” nos carros. Então, até para a semana.

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